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quarta-feira, março 31, 2010

Sávio

       Seus olhos se abrem na escuridão do quarto, jamais se acostumaria acordar cedo daquela forma, fazia isso há décadas e ainda não havia se acostumado, porque gostaria de fazer isso agora? Ao acordar, sentia todos os nervos do seu corpo, como se fossem fios desencapados, onde um numero sem fim de terminações elétricas tinham curtos e destruíam – se mutuamente. Mas aquele não era o pior motivo dos despertares de sua vida, enquanto virava – se na cama, para verificar as horas, temia pela certeza que invadia seu ser, assim como uma pouca luz invadia seus olhos, que iam se acostumando com a penumbra do quarto: “Ainda faltam dez minutos para o horário de despertar... eu não consigo deixar de fazer isso...”, acorda todos os dias com dez minutos de antecedência, não conseguia deixar esse costume, que adquirira no passado pelo maravilhoso motivo de que... “Vou fechar meus olhos e dormir esses dez minutos, eu consigo”... Podia ainda vê – la dormir aqueles dez minutos, a lembrança daquela presença, não deixava de ser mais presença do que lembrança.
       Com sofreguidão levanta – se, olha no espelho e esboça um sorriso, isso não o anima, só está observando se vai conseguir convencer as pessoas de que está bem, mas na verdade não vai fazer diferença, “ninguém se preocupa se estamos bem ou não, apenas se passamos o cartão no horário correto na entrada e saída, ‘não haverá pagamento de horas – extras hein pessoal, depois vocês pegam folgas’, desgraçados...”, folga do que exatamente? Sua profissão era a única coisa que havia sentido pra ele... Alias, não sabia mais o significado da palavra ‘folga’, “vou olhar no dicionário, quando eu ligar o computador... pensando bem, isso não faz o menor sentido ...”, na verdade nas primeiras horas do dia nada fazia sentindo, ainda estava olhando no espelho, quando voltou seu olhar para sua cama, como sempre estava estranhamente arrumada, isso quer dizer que não mexia – se muito durante as noites, mas outra constatação lhe apunhalava o coração: não havia ninguém lá.

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