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domingo, junho 06, 2010

Analisando a analise sobre a morte

Recebi duas vezes, uma a bastante tempo e outra agora, esta mensagem por e-mail, como acho ela totalmente errônea, resolvi postar aqui minha insatisfação com estas idéias. O texto é atribuído a Pedro Bial, então já da pra imaginar o que vem por aí ...

“Veja esta obra prima do Pedro Bial!! / Nunca paramos para pensar na morte - essa coisa meio estranha. . . / Texto interessante. Uma excelente reflexão sobre a morte... / Leia com calma e reflita bastante.”

Na minha humilde opinião, existem, nestes trechos algumas incoerências, as expressões “obra prima”, “interessante”, “excelente reflexão” e “reflita” não combinam com o texto escrito. Percebo uma grande inclinação para a emoção, o que, normalmente nos leva a achar o texto bom, pois “toca” nossos sentimentos, mas isso não quer dizer que o texto é bom, e sim que é apelativo, o texto que leva a verdadeira reflexão, é aquele que equilibra a razão e a emoção (no mínimo).

“Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena. Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que e causa em todos os que ficam.”

O bom humor é uma ponte entre as pessoas, e bom humor não é contrario de seriedade, pode – se ser uma pessoa séria e bem humorada, imaginar que companheiros de trabalho a tantos anos, fariam sua típicas piadas naquele momento, é no mínimo um pensamento inocente...

“A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário,  tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. / Como assim? / E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? / Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. / A troco do que? / Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. / Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. / Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em  frente... / De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. / Qual é? / Morrer é um chiste. / Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. / Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. / Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. / Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas , mulheres e morre num sábado de manhã. / Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. / Isso é para ser levado a sério? / Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. / Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. / Ok.... / Hora de descansar em paz.”

Exacerbando dessa maneira tudo o que se perde com a morte, percebemos uma maneira de expor a vida do prisma daquelas pessoas que são apegadas a coisas e momentos menores, isso porque os estudos, o trabalho, as mulheres, os prazeres, fazem parte da vida, mas não são, nem de perto, a totalidade do que a verdadeira vida é, como comparar o recebimento e acumulo de informações e saber com a transmissão deste saber? Como comparar festas e bares, com passarmos mais tempo conversando (de verdade) com nossos amigos? Como comparar mulheres, com nossas mães e esposas? Me diga onde está nossas famílias neste texto? Em que trecho?
Imagine toda sua vida dentro de um grande salão, seus amigos, seus momentos, sua família, suas convicções... E lembre – se que há algo fora deste grande salão, há uma porta nele, e passaremos um dia por ela, devemos viver como quem se prepara para isso e deixa um legado para aqueles que ainda permanecem. Ao valorizarmos demais o que esta dentro deste salão jamais conseguiremos viver o que há depois da porta.

“Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. / Morrer é um exagero. / E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. / Só que esta não tem graça. / Por isso viva tudo que há para viver. / Não se apegue às coisas pequenas e inúteis da Vida... / Perdoe....sempre / Perdoe....sempre / Perdoe....sempre”

Uma coisa é construir uma antítese, outra é cair em contradição, quando o autor diz que “não se apegue às coisas pequenas e inúteis da vida” ele destrói toda a idéia que construiu no seu texto, pois todo o texto valoriza coisas passageiras e insignificantes em nossas vidas, é o mesmo que dizer “agora que terminaram de ler isso, esqueçam!”

Desculpem a postagem longa, mas estava engasgada ...

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